QUEST TRAMA - DORNE

Elia tamborilou nervosamente os dedos na madeira da grande mesa e encarou as portas duplas do salão de reuniões com genuína irritação. Ela odiava ficar esperando. Alguns minutos mais tarde, as portas se abriram repentinamente e ela ergueu seu olhar somente para vislumbrar o Mestre de Sussurros a serviço da casa Martell, adentrar o recinto com um olhar urgente e lhe direcionar uma mesura ligeira. A jovem herdeira suspirou e olhou para detrás do velho homem, esperando que o seu pai rompesse pelo arco e comparecesse ao encontro da reunião de ambos, mas ele não surgiu em seu campo de visão e ela voltou a encarar o senhor, acenando com a cabeça para que ele falasse.

— Minha princesa, trago notícias urgentes vindas de Toca do Inferno. — o homem despejou de forma direta e olhou receoso para a cadeira onde Yorick deveria estar sentado. Elia arqueou a sobrancelha direita de forma surpresa e frisou os lábios olhando fixamente para o mesmo.

— Não perca seu tempo, ele não virá. — ela exclamou da mesma forma direta e levantou-se de onde outrora estava sentada e caminhou até uma pequena mesa próxima, onde se serviu de vinho. Bebericando da taça, ela focou pensativa a parede alaranjada e com um suspiro decidido, voltou sua atenção ao homem. — Em sua ausência, os assuntos do reino devem ser tratados comigo e pelo que vejo, é um assunto tão urgente que não pode esperar. — mais uma vez, bebericou um pouco do vinho adocicado e tomada de uma audácia comum a sua personalidade, puxou a cadeira ordenada a seu pai e sentou-se, repousando a taça na mesa. Com a mão, ela acenou para que o homem sentasse e ainda que estivesse receoso, não ousou desobedecer a uma ordem da sua futura suserana.

— Senhora, sem querer parecer desrespeitoso, mas não será melhor esperarmos o senhor seu pai aparecer? — o homem indagou a morena com cautela e com o olhar baixo. De fato, Elia não era a governante e mesmo que ainda fosse herdeira do trono, sabia que não tinha autonomia para tratar de determinados assuntos. Mas também sabia que algo grandioso estava acontecendo e ela precisava saber do que se tratava.

— Podemos esperar que ele apareça ou podemos ir direto ao assunto e findarmos qualquer outro problema em Dorne, já que não podemos nos dar o luxo de mais rebeliões. — Elia respondeu ao homem de maneira cortante e recebeu um aceno de cabeça em resposta. O homem remexeu em seus papéis sobre a mesa e puxou alguns pedaços pergaminhos de aparência envelhecida.

— Durante esta manhã, uma das minhas cobrinhas trouxe até a mim esses pergaminhos e neles contém informações de que possivelmente há um herdeiro do trono descendente da Princesa Arianne, e que há um livro em Toca do Inferno que confirma este fato. — o homem de forma calma iniciou a conversa e empurrou gentilmente os pergaminhos em direção a Elia, que ainda cética, analisou as palavras contidas naqueles pedaços de papel e suspirou tentando se acalmar diante daquele enorme problema.

— Diga-me, você sabe me dizer a quanto tempo este livro esta em Toca do Inferno e como diabos ele foi parar lá? – Elia fixou os olhos no homem e empurrou os papéis de forma impaciente e recostou-se na cadeira, tentando formar um pensamento concreto.

— Sabe-se, minha senhora, que o livro pertenceu a um Meistre e que este se encaminhava a cidadela para informar do nascimento desta criança que descende diretamente dos Martell, mas foi interceptado e morto próximo a Toca do Inferno e então o livro foi parar em um Antiquário na cidade mesmo. – Elia olhou incisiva para o homem e semicerrou os olhos ao ouvir a palavra descendência. Elia sempre dizia que laços sanguíneos não eram o que formavam um bom governo e sempre reforçou isso ao tratar Ellaria e Sollaria como verdadeiras irmãs, mesmo ambas sendo bastardas. Mas a questão ia além de sangue, aquilo era uma disputa pelo trono de Dorne e se viesse a tona, seria a ruína da sua geração.

— O livro ainda se encontra em Toca do Inferno, correto? — ela perguntou e tamborilou os dedos mais uma vez na mesa. O homem balançou a cabeça positivamente e Elia encarou os papéis um tanto pensativa, seus olhos se voltaram para as portas duplas ainda na esperança de Yorick surgir e abraçar a causa, mas nos minutos seguintes nada aconteceu e ela suspirou cansada. — O senhor sabe em que Antiquário ele está? — ela perguntou mais uma vez e bebeu o restante do vinho em seu cálice. O homem acenou com a cabeça indicando que sim, ele sabia. — Ótimo! Peço então que se prepare, pois a nossa discreta e pequena comitiva sairá ao anoitecer. — ela exclamou e levantou-se olhando de forma determinada o mestre dos sussurros. O homem, um tanto trêmulo, levantou-se e fez uma reverência saindo rapidamente porta afora. — Marya! — ela gritou pela serva e logo uma mulher de longos cabelos negros surgiu. — Mandem selar quatro dos nossos mais velozes corcéis e peço que chame Sollaria e Ellaria. Quando o senhor meu pai aparecer, diga a ele que irei resolver alguns problemas em Toca do Inferno e peça que ele vá visitar alguns Lordes ao invés de ir a bordeis. Pela Mãe! Faça o lembrar que ele é o governante. — ela despejou as informações em cima da serva e com uma reverência, a mulher saiu da sala, indo fazer o que lhe foi ordenado.